Textos escritos pela autora do site Viviane Cornachini, contando histórias que aconteceram em sua vida devido ao TDAH.
Voltando a habitar o meu corpo
Texto por Viviane Cornachini
Num dia de prova cheguei á faculdade e pedi para que uma amiga discutisse comigo o assunto da prova e ela, como naquele momento estava ocupada, pediu para que eu esperasse um momentinho. Alguns minutos depois, a amiga se dirigindo a mim disse:
- Pronto. Agora vamos debater o assunto da prova?
E eu que já não me lembrava o que tinha pedido a ela falei:
- Você está louca? Eu não quero nem ouvir falar no assunto dessa prova!
Minha amiga virou as costas pra mim e começou a discutir o assunto com um outro colega, foi quando eu me dei conta do pedido que tinha feito a ela (de discutir o assunto). Tendo percebido meu esquecimento pedi desculpas a amiga e sugeri que ela viesse discutir o tal assunto da prova comigo, ela então se dirigiu ao amigo que estava discutindo a matéria da prova com ela e disse:
- Bom, agora vou discutir o assunto com a ela, porque parece que ela já voltou a habitar seu corpo.
Nós então rimos tanto da situação que não conseguíamos mais estudar para a prova.
E agora? Roubaram meu carro?
Texto por Viviane Cornachini
Fui para a 25 de março comprar tecidos e estacionei ocarro na rua do mercado municipal. Quando, seis horas depois, voltei para buscar o carro, verifiquei que o mesmo não se encontrava mais na vaga onde eu achava que tinha estacionado. Desesperada comecei a chorar muito e a gritar:
- Roubaram meu carro! E agora como vou fazer?
Nesse momento o guardador de carros que atuava naquela rua chegou perto de mim e disse:
- O carro da senhora não é aquele que tem um adesivo de coelhinha atrás?
- Eu desesperada respondi: Sim, por que? Você viu quem roubou?
E o rapaz rindo muito respondeu: Calma senhora, ninguém roubou, a senhora que estacionou ali ó... mais pra frente.
Nesse momento senti uma mistura de vergonha e alívio, agradeci muito o rapaz e jurei trocar o adesivo da coelhinha pelo o de uma borboleta que acho que teria muito mais haver comigo.
A prova que eu não entreguei.
Texto por Viviane Cornachini
Certa vez, fazendo uma prova de psicomotricidade, fui informada pela professora de que poderia fazê-la em qualquer lugar da universidade, mas que depois deveria entregá-la (a prova) na secretaria de estágios. Fiz a prova inteira, e para isso levei aproximadamente 4 horas e quando estava pronta, saí com a prova na mão rumo a tal secretaria de estágios para entregá-la. Porém, no meio desse trajeto, encontrei um amigo e me distraí com a conversa e em algum momento acabei guardando a prova na mochila. Esse mesmo amigo perguntou se eu estava indo para casa, eu disse que sim, e juntos fomos felizes e contentes para casa.
Uma semana depois, quando peguei a mochila para fazer uma atividade encontrei a bendita prova. Não demorei nada a perceber a trapalhada que tinha feito e fiquei desesperada porque, para agravar a situação, a prova foi feita em dupla e a minha parceira confiou a mim a entrega da prova. Não sabia o que fazer, então me ocorreu a idéia de ligar para a professora e explicar o caso.
Para minha sorte, a professora compreendeu minha dificuldade e permitiu que eu entregasse a prova no seu consultório. Felizmente, essa situação teve um desfecho feliz o que quase nunca ocorre nos desfechos de minhas peripécias.
De TDAH para TDAH
Texto por Viviane Cornachini
Quando um dia cheguei em minha classe, uma amiga me contou que os professores estavam muito bravos porque alguns alunos foram falar que os mesmos (os professores) contaram para seus orientandos quem seriam seus orientadores antes do dia oficial para tal revelação. Nesse momento a amiga que me contava o fato revelou o nome da colega de classe que estava espalhando a notícia. Foi então que eu, mesmo sabendo que a tal menina era que estava espalhando a notícia, numa conversa á toa na cantina disse a ela (a que espalhou):
- Esse pessoal é fogo viu?
Ela respondeu:
- Por que?
- Ora por que? Só porque eles ainda não sabem quem serão seus orientadores, foram lá e contaram para os professores que tinha aluno que já sabia quem iria orientá-lo e agora os professores estão P. da vida. Disse eu
E a outra TDA sem diagnóstico concordou:
- Mas esse povo não tem o que fazer mesmo, é um absurdo e blá blá blá
Duas colegas que escutaram tanto a conversa da classe quanto a da cantina, se olharam indignadas. E tão logo a tal menina se afastou, as duas desabaram a rir e disseram que aquele era o primeiro surto de tdah coletivo que elas tinham notícia.